segunda-feira, setembro 25, 2006

Donoso Cortés

A “demo-liberalice” – entendida como partidocratite eleiçoeira – que assola estas paragens dá a medida exacta dos (des)governos imediatistas. Já alguém referiu que se um estadista é aquele pensa nas próximas gerações o político profissional é quem pensa apenas na próxima eleição... Que mal irreparável podem fazer às Nações certos titulares de poder que arrogam-se o direito de dispor do património efectivamente “nacional”, como se a geração que dizem representar fosse proprietária não só do presente como também do passado e do futuro. Vem-me ao espírito Juan Donoso Cortés com a sua ideia de unidade do tempo, de solidariedade como responsabilidade comum num agregado social: se não existe um “vínculo de união” entre o passado, o presente e o futuro, o homem não vive se não no momento actual – e a sua existência é mais “teórica que prática”. Ou seja: o homem que não vive em todos os tempos não vive em tempo algum. A unidade do Portugal pluricontinental estava profundamente enraizada no passado enquanto apontava decididamente para o futuro. Esfacelou-se revolucionariamente esta unidade, deitando-se fora raízes, destino e uma missão histórica – os autores desta inenarrável tragédia humana, moral, material e nacional fugiram “exemplarmente” às responsabilidades. Qual o destino ou a missão na História que ainda resta – se é que resta – ao Portugal abrilisticamente tornado exíguo?

5 Comments:

At 5:44 da manhã, Blogger Je maintiendrai said...

Haja alguém que se lembre do velho Donoso!

 
At 9:37 da manhã, Blogger Marcos Pinho de Escobar said...

Para compensar este tempo "danoso", mon cher Ami!

 
At 12:03 da tarde, Blogger Rodrigo N.P. said...

«Qual o destino ou a missão na História que ainda resta – se é que resta – ao Portugal abrilisticamente tornado exíguo?»

Para já, e para que possa ter destino, é preciso que não se permita destruir o que resta de «unidade» e de sentimento de comunidade, auto-percepcionada, que ainda pode permitir olhar para Portugal como uma nação. Quando a imigração não-europeia ultrapassa já os 10% da população eu afirmo que essa trasformação étnica é a golpada final no que resta de qualquer sentido de identidade que possa servir um novo mito de agregação e renascimento nacionalista.

Depois, se isso for conseguido, o que em face da situação corrente é improvável, é preciso passar por um processo de refundação que insira Portugal num bloco-potência Europeu e fazendo uso da posição estratégica que a geografia lhe confere, pela costa atlântica inigualável e pela posição central face às Américas e a África na ligação com a Europa. O Império lusófono acabou e tentativas de uma sua reconstrução sob formulações políticas são suicidárias, o futuro tem de saber romper os estigmas do velho conservadorismo.

 
At 12:04 da tarde, Blogger O Corcunda said...

Vou guardar a foto, porque há uns anos andei à procura de uma para a capa de um trabalho sobre o dito Marquês de Valdegamas e "nicles"! Mais do que solidariedade, caridade!

Abraço ultramarino

 
At 7:04 da tarde, Blogger Paulo Cunha Porto said...

Donoso era muito grande. Tenho as Obras Completas» na BAC, Caro Euro-Ultramarino. O trecho citado fez-me lembrar a «permanência na Continuidade», de Sardinha.
Abraço.

 

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