sábado, dezembro 31, 2005

Um Feliz Ano Novo a todos que por aqui passam

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Os últimos euro-ultramarinos


Blog de vincada raiz ultramarina, não posso deixar de pensar na África traída e nos milhões de inocentes a quem uma canalha de variada extracção decidiu um dia, de moto próprio, roubar o futuro. Enquanto descolonizadores exemplares, traidores encarcerados por inteligência com o inimigo, apologistas da ideologia mais assassina da História e omissos úteis passeiam pelos caminhos do que restou do nosso Portugal, quero aqui recordar mais uma barbaridade, já não em terra que foi orgulhosamente Portuguesa, mas na Rodésia, onde estão a ser massacrados os últimos euro-ultramarinos que teimaram em ficar no torrão onde mourejaram e enterraram pais, avós e bisavós, e cujo crime sem perdão é a sua própria raça. Vêm a este propósito as memórias de Ian Smith, cuja apresentação faz-se a seguir:

"A Grande Traição
é o título das memórias publicadas em 1997 por Ian Smith, último primeiro ministro da Rodésia. Autobiográfica, a obra oferece uma interessante panorâmica da história desta importante parte da África Austral e relata minuciosamente como os nossos "amigos" britânicos e estado-unidenses não descansaram enquanto este pedaço de terra não foi finalmente lançado ao seu calvário particular. Paz, tempo, lei e ordem - factores fundamentais para qualquer evolução autêntica e segura - foram sacrificados em favor da hipocrisia, da irresponsabilidade, da expediência.

Cumpre referir que o texto já se dirigia ao prelo quando a editora, uma das grandes na cena internacional, decidiu suspender a sua publicação, exigindo de Smith que eliminasse os adjectivos de "terroristas" e "assassinos" com os quais qualificava o bando marxista do sinistro Robert Mugabe. Smith prontamente recusou este estelionato histórico e foi com o seu manuscrito à procura de outra editora: jamais poderia referir-se a assassinos, bombistas e estupradores de outra forma.

Seria desnecessário afirmar que A Grande Traição interessa particularmente aos portugueses, euro-africanos genuínos e pioneiros, escandalosamente imolados e esbulhados pela traição doméstica a soldo de uma conspiração internacional - tragédia odiosa que há um quarto de século brada aos céus e clama por justiça!

Logo à partida cumpre ressaltar as páginas elogiosas que Ian Smith dedica a Salazar e a Portugal. Rende sincera homenagem à nação euro-ultramarina que, com a nobreza da simplicidade e a força do carácter, cumpria a sua missão histórica de povo, defendendo com determinação os seus legítimos direitos e interesses perante os fortes do mundo. E reafirma a sua profunda admiração por Salazar, estadista excepcional, cuja craveira intelectual e moral deixaram em Smith uma impressão única e indelével.

Como muitos rodesianos de sua geração, Smith interrompe os estudos universitários e, deixando para trás o sossego do torrão natal, alista-se nas forças britânicas e abala para a Inglaterra. Piloto da Real Força Aérea, combate nos céus europeus até ser ferido gravemente num acidente com o seu Hurricane em 1943. Restabelecido, reintegra-se no seu esquadrão e prossegue a luta até ser abatido sobre território italiano em Junho de 1944. Junta-se aos partigiani italianos até escapar para a França, atravessando a pé - e só com as meias! - os gelados Alpes Marítimos. Em 1945, após uma passagem pela Alemanha, Smith regressa à casa para completar os estudos e dedicar-se à agro-pecuária. Em 1948 ingressa na política.

Irrompe a década de sessenta e dos pulmões dos vencedores de Ialta sopra o bafio velhaco dos "ventos da mudança", a mascarar o verdadeiro objectivo de expulsar os europeus dos continentes africano e asiático. A Grã-Bretanha, alegremente empenhada na sua demissão histórica, anuncia a dissolução da Federação das Rodésias e do Niassalândia com vistas a formação de estados "independentes" governados por maioria negra. Smith é o único de seu partido a manifestar oficialmente a sua desconfiança em relação à proposta explicitada por Londres. Para ele, a Inglaterra, no afã de obter a simpatia de afro-asiáticos, estado-unidenses e soviéticos, estaria disposta a liquidar o seu "problema colonial" com o abandono puro e simples da população branca - os mesmos indivíduos que no conflito mundial de 39-45 deixaram a paz dos seus lares para irem arriscar as próprias vidas no socorro à Grã-Bretanha.

Em 1964 Ian Smith é eleito primeiro ministro. Numa visita oficial a Lisboa encontra-se demoradamente com Salazar e este diz-lhe de chofre que os rodesianos seriam traídos pelos inglêses; e acrescenta que Portugal prestaria o auxílio necessário a Salisbúria. Pouco depois, aqueles a quem Fialho de Almeida chamou de "carrascos ruivos do Tamisa", concretizavam o que o estadista português sentenciara. E a lembrança deste encontro profético com o asceta de São Bento ficou para sempre gravada na memória de Smith; que até ao dia de hoje mostra-se convencido de que, se Salazar tivesse vivido dez anos mais, a Rodésia teria sobrevivido.

Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico - que insistia em não cumprir o que havia sido acordado, além de superar-se a si próprio na arte da velhacaria -, Smith declara a independência da Rodésia. Sua vida política passa então a reger-se quase que exclusivamente por duas constantes: a neutralização dos efeitos das sanções impostas pela ONU, sob a batuta de Londres e Washington; e o combate ao terrorismo e à guerrilha de obediência comunista que faziam a sua desumana entrée no território.

De 1965 a 1979 Smith e a sua Frente Rodesiana - sucessivamente reconduzidos ao governo - mourejaram para levar o novo país na trilha do progresso, enquanto negociavam com os líderes negros contrários ao uso da violência, as fórmulas prudentes e justas para, um dia, transferir as estruturas governamentais a uma maioria negra. Em 1979, o bispo Abel Muzorewa torna-se chefe do governo e constitui a primeira administração bi-racial. Entretanto, para os polícias planetários, um governo responsável composto por brancos e negros não tem serventia, uma vez que o que realmente pretendem é abrir caminho aos terroristas, até então afastados do processo do sistema oficial. As pressões internacionais e a campanha de terror intensificam-se: Londres e Washington exigem a inclusão do marxista Mugabe e de seus bandoleiros no famigerado "processo político". Os primeiros sinais de fadiga começam a ser notados: é a velha tentação de sucumbir às pressões externas e reger-se por cartilha estranha em troca da supressão dos sacrifícios necessários. O governo de Muzorewa não logra durar muito e novas eleições são convocadas, desta vez com total liberdade de acção para o bando terrorista de Mugabe e, naturalmente, o beneplácito dos areópagos internacionais. A intimidação mais atrevida, o terror sem peias e a utilização dos expedientes mais cavilosos para baralhar o escrutínio, possibilitam a vitória aritmética dos marxistas. Acto contínuo as sanções internacionais são levantadas e a Inglaterra outorga a imediata independência à Rodésia, que já amanhece como o marxista Zimbabué - atitude que demonstra de maneira indesmentível as intenções verdadeiras e originais dos ingleses. Caía o pano: completava-se a grande traição. Mugabe, apaparicado pelos senhores do globo, não tarda em implantar a sua ditadura de partido único através da perseguição, intimidação e eliminação física de opositores. O alvo preferido é a população branca e os negros que não "aderiram" prontamente à "revolução". Um território outrora pacífico e em franco desenvolvimento é transformado num espaço de opressão e violência, corrupção e ruína económica.

Ian Smith termina o livro recordando às consciências mundiais que estas esqueceram-se de advertir que o tão propalado princípio de "um homem - um voto" seria aplicado em África… apenas uma vez!

A repetição da barbárie a que assistimos nesta terra martirizada é apenas a continuação da actividade terrorista iniciada em meados dos anos sessenta e que culminou, em 1980, com a tomada do poder pela cáfila de assassinos liderados por Mugabe. Não há ilusões nem surpresas. É mais um capítulo do terrorismo de estado então implantado sob a chancela dos que se arrogavam a qualidade de porta-vozes da "comunidade internacional".

A verdade é que os arautos dos "direitos humanos" e da "auto-determinação", enquanto condenam e boicotam um governo livremente eleito pelo povo austríaco, acocoram-se perante as mais violentas e corruptas ditaduras africanas - aquelas que eliminam fisicamente a oposição, "governam" as populações a tiro ou à fome, levam à ruína os mosaicos tribais irresponsavelmente armados em países, enquanto acumulam fortunas nababescas nos offshores financeiros e adquirem sumptuosos palácios na Europa.

Aposto dobrado contra singelo que a nova vaga de racismo anti-branco na antiga Rodésia, com o habitual cortejo de agressões, assassinatos e invasões de terras, não irá tirar o sono aos senhores da Nova Ordem Mundial. Fiquemos descansados: os aviões da dupla justiceira Clinton & Blair não irão largar bombas em cima do Zimbabué do camarada Mugabe. Padecer sob a pata comunista nunca proporcionou o direito a muita indignação ou a uma grande audiência. Ademais, uma boa limpeza étnica, desde que feita por negros contra brancos, é sempre vista com os olhos húmidos de compreensão.

A farsada que constitui a obra-prima das ONUs e dos senhores deste planeta vai, desgraçadamente, continuar em cartaz na terra africana encharcada com o sangue dos inocentes. Eis as excelsas realizações dos arrojados descolonizadores - "exemplares", com certeza.

No momento em que a antiga Rodésia volta a ser notícia, recomenda-se vivamente a leitura das memórias de Ian Smith, disponível em língua inglesa. The Great Betrayal, The memoirs of Africa's most controversial leader, by Ian Smith, Blake Publishing, 1997."

quarta-feira, dezembro 28, 2005

A Resposta Portuguesa - Capítulo I

"A Grande Estratégia Comunista

São três as causas básicas para as convulsões político-estratégicas a que hoje assistimos em tantas partes do mundo.

A primeira é o racismo, mais exactamente o neo-racismo dos não-brancos relativamente aos brancos.

A segunda é o banditismo organizado a nível internacional.

A terceira é a agressão do imperialismo comunista, mais precisamente do comunismo neo-imperialista.

No que respeita à primeira destas causas, é necessário reconhecer que, outrora, existia o predomínio de sentimentos racistas por parte dos brancos em relação aos não-brancos. Estes sentimentos tinham origem na crença da superioridade do homem branco e sempre foram ilegítimos – tanto quanto são ilegítimos na sua versão moderna do paternalismo. De qualquer maneira, é certo que estes sentimentos e o sistema que os inspirava pertencem ao passado e estão a extinguir-se rapidamente.

Todavia, a outra face da moeda, o neo-racismo dos não-brancos contra os brancos, está longe de estar extinto. É possível que este último, na sua origem, tenha surgido como uma reacção às atitudes do homem branco. Prém, qualquer que seja a sua origem, ainda é errado. Infelizmente, este neo-racismo, com os seus métodos de violência criminosa e delinquência organizada, está a crescer, tanto na área de actuação, como na sua virulência.

De facto, esta violência e delinquência, que já chegaram a apresentar sinais de declínio, estão a mostrar um recrudescimento sem precedentes à escala mundial.

Infelizmente esta violência reveste-se de uma ideologia política que, ao ser tácita ou abertamente tolerada por personalidades que de outro modo seriam tidas por pessoas de bem, está a receber um toque de respeitabilidade.

É neste estágio que surge o comunismo. Se este fosse somente um regime doméstico, diria unicamente respeito a cada país e ao seu governo. Mas não é assim. Impondo-se pela força a povos que o não desejam, o comunismo é tão anacrónico quanto o ultrapassado imperialismo ocidental, sendo motivo de forte repúdio devido aos miseráveis métodos que utiliza.

Dentre esses métodos, os mais importantes são o neo-racismo e o banditismo internacional, tal como descritos acima, ambos manipulados pelo comunismo neo-imperialista. Impõe-se admitir que, quer através de agentes conscientes ou inconscientes, o comunismo consegue manipular estes dois métodos com imenso sucesso, transformando-os – levemente camuflados – em instrumentos de ponta para a expansão comunista mundial.

Estas são as causas reais das turbulências político-estratégicas que estão a ocorrer neste momento em diferentes regiões do globo e com frequência crescente.

Portanto, não seria muito difícil imaginar que Portugal, e mais precisamente os seus estados e províncias ultramarinas, transformar-se-iam em alvos do comunismo e vítimas dos métodos descritos acima. O resultado tem sido três guerras – em Moçambique, Angola e na Guiné.

O velho multirracialismo dos portugueses, a sua tradição moral e a sua estrutura anticomunista e anti-imperialista, fizeram com que estas três guerras, mais do que em qualquer outra parte do mundo, tivessem de ser organizadas, lideradas e mantidas a partir do estrangeiro.

O comunismo neo-imperialista tem, na sua luta para destruir a civilização ocidental, a par da Ásia marítima, a África como um dos seus objectivos principais. Estrategicamente a África é a área de segurança da Europa.

Portanto, é exactamente o futuro da Europa que está em jogo – da Europa que foi o berço da civilização ocidental e continua a ser um centro de irradiação do pensamento ocidental.

Se ao comunismo neo-imperialista for permitido obter êxito em África, um novo e principal objectivo seria então seleccionado – a América Latina, que é estrategicamente o flanco meridional dos Estados Unidos da América.

A seguir seria o futuro da própria América do Norte que estaria em jogo, justamente onde a civilização ocidental obteve tão extensas realizações práticas, tanto em termos qualitativos como quantitativos.

Se a África e a América Latina sucumbirem, nem a Europa nem a América do Norte terá alguma hipótese de sobrevivência.

É precisamente por isso que creio ser a África – além da Ásia marítima – o local onde está a ser travada a grande batalha entre o comunismo e a civilização ocidental. E é aqui que o comunismo internacional precisa de ser definitivamente derrotado.

A luta pela África está a ser conduzida em todo o continente, especialmente nas regiões Norte e Sul, que são as áreas mais importantes em virtude de sua posição relativamente às vias essencias de comunicação mundial.

Na África do Norte, aproveitando-se de motivos e forças locais, como o conflito racial árabe-judaico, a União Soviética já assegurou uma considerável posição de controlo em alguns países árabe-mediterrânicos.

Na África Austral, apesar das pretensões soviéticas, é a China que neste momento lidera as actividades.

Inicialmente os chineses procuraram estabelecer-se nas duas costas, sobre o Índico e sobre o Atlântico, em duas bases principais, uma no Congo-Brazzaville e outra na Tanzânia.

No entanto, falharam em criar uma ligação entre estas duas bases e foram forçados a mudar de estratégia. Esta consistia em, a partir da Tanzânia, tentar conquistar o coração da África Austral – a Zâmbia – e, a partir de lá, infiltrar Angola, Rodésia, Moçambique e o Malawi, sendo a República da África do Sul o objectivo final.

A implementação da estratégia chinesa está a ser auxiliada pelas atitudes dos governos da Tanzânia e da Zâmbia, atitudes estas que considero politicamente absurdas. Esta estratégia encontrou um excelente apoio na construção do caminho de ferro “Tanzam”, obra sem sentido económico. Esta obra já emprega pelo menos 25.000 chineses, grande parte disfarçada em técnicos ferroviários, mas que na realidade são especialistas em subversão e instrutores de terrorismo e guerrilha. Em consequência, não pode existir nenhuma dúvida quanto à penetração comunista, especialmente chinesa, e ao seu avanço na África Austral. Mesmo assim, o conjunto do Ocidente, ou cada uma das potências mais significativas, ainda não tomou nenhuma medida concreta para conter ou eliminar esta penetração."

terça-feira, dezembro 27, 2005

Économie d´abord


Em vez do "politique d´abord" do caríssimo Maurras, a ordem é "économie d´abord". As nações, os países (estas criações por contrato, da noite para o dia), as sociedades, os indivíduos, a vida, etc., tudo não possui outro valor que o económico. Esta é, lamentavelmente, a tabela pela qual tudo é aferido. Em terras de Vera Cruz, por exemplo, onde comunistas e capitalistas formam um casal modelo, tema de conversas de salão pelo mundo fora -- Os bancos estão a obter lucros recordes? Que importa se a taxa de juro é a mais alta do planeta? A indústria com mercado cativo, totalmente protegida de qualquer concorrência estrangeira, apresenta altos índices de crescimento? Que interessa se as herdades são invadidas, pilhadas e ocupadas? Se O FMI e o Banco Mundial cantam lôas ao governo, se a alta finança mundialista -- os investment banks de apelidos judaicos -- aplaude efusivamente a administração, de que servem eventuais preocupações pela criminalidade absoluta, pela fiscalidade mais alta do universo, pela vitória da revolução gramsciana, pelo ensino goela-abaixo do marxismo nas escolas, pelo assassínio sistemático dos nascituros, pela destruição das famílias, etc.? Acaso os milhões de infelizes que estão a malhar os ossos nos campos de concentração chineses constituem variável nas equações de lucros e perdas do capitalismo mundial e da democratérrima comunidade internacional? Não: économie d´abord! O resto que se lixe. Trata-se da grande síntese: o capitalismo e o marxismo de mãos dadas. Para a um panorama do que se passa no Brasil, exemplo supremo da aplicação exitosa dos métodos de António Gramsci, sugiro vivamente a leitura do último texto publicado pelo filósofo Olavo de Carvalho -- Feliz Ano Novo? Que cinismo!, em:

http://www.olavodecarvalho.org/semana/051226dc.htm

sábado, dezembro 24, 2005

A todos um Santo Natal

quinta-feira, dezembro 22, 2005

"A Resposta Portuguesa": A verdade sobre a guerra anti-subversiva em Moçambique



Em 1973 foi publicado em Londres o livro The Portuguese Answer, de autoria do General Kaúlza de Arriaga e editado por Tom Stacey Ltd. O objectivo deste texto foi contrapor a verdade dos factos acerca do esforço de auto-defesa executado na Província Portuguesa de Moçambique à enxurrada de calúnias produzidas pelos especialistas mundiais da desinformação. Nesta tarefa de esclarecimento do público de língua inglesa, contou o antigo comandante-chefe das FFAA com a colaboração do deputado britânico Iain Sproat, quem elaborou o prefácio à obra, na sequência de demoradas viagens pelo nosso Ultramar, especialmente por Moçambique.

Misteriosamente desaparecido das livrarias londrinas pouco após o 25 de Abril -- consta que as autoridades revolucionárias, evidentemente comprometidas com a instauração das mais amplas liberdades e da mais pura democracia, ordenaram a aquisição e destruição de todos os exemplares disponíveis --, o trabalho desmistifica o embuste propagandístico fabricado pelos imperialismos que nos quiseram expulsar de África e, ao descrever o épico esforço de defesa de Moçambique e de suas gentes, contrasta a dignidade da vida diária naquele território então português, com o ignominioso espectáculo de destruição, violência, fome e miséria, resultante da "descolonização exemplar" -- obra pela qual os abrilinos e a ONU podem limpar as mãos, perdão, as patas, à parede.

Em época de orgias eleiçoeiras, com os profissionais da traficância de votos, favores e consciências, no patético e repetitivo frenesim à volta do poder, seria de bom alvitre recordar um passado não muito longínquo no qual muitos dos que ainda andam para aí cometeram crimes sem conta e sem perdão.

Nesta linha de acção iremos aqui divulgar alguns documentos que se consideram inéditos, outros de certeza já olvidados, e todos servirão não só para uma profunda reflexão mas também como ferrete para os fautores da desgraça nacional



"A Resposta Portuguesa*


Prefácio


A minha primeira e detalhada introdução aos problemas políticos e militares de Moçambique foi, talvez, um tanto insólita, para quem está a escrever o prefácio deste livro. Ela me foi feita pelos guerrilheiros da FRELIMO em seu quartel-general em Dar-es-Salaam. Nessa altura discuti com simpatia os seus objectivos e realizações; visitei o Instituto Moçambique, o qual atendia o lado civil das operações da FRELIMO; e li os escritos de seus líderes, especialmente os do seu primeiro presidente, Eduardo Mondlane, por que nutria uma considerável admiração. Os guerrilheiros tinham conquistado a minha simpatia simplesmente porque pareciam ser os desfavorecidos.

Lembro-me muito bem das três denúncias que me foram feitas no quartel-general da FRELIMO. A primeira era que esta controlava 20 por cento do território. A segunda, que os aldeamentos, ou aldeias protegidas, em Moçambique, não eram muito diferentes dos campos de concentração nazis. E a terceira, que os portugueses brancos praticavam uma forma de discriminação racial ligeiramente diferente do Apartheid sul-africano, mas sem diferença quanto aos resultados produzidos nos africanos.

Já tinha visitado Moçambique em princípios de 1970, mas não tinha tido a oportunidade de verificar estas denúncias. Decidi que devia fazê-lo e pedi autorização para visitar as áreas de guerra na província. Recebi-a sem dificuldades, sendo informado de que poderia falar com qualquer pessoa que desejasse e visitar qualquer parte do território. Mais tarde requeri e obtive permissão para visitar Angola e a Guiné, podendo também deslocar-me a qualquer parte do território e falar com quem bem entendesse. Em momento algum e em nenhum território português foi-me imposta alguma restrição.

Entretanto voltemos a Moçambique: eu estava decidido a verificar, com a maior objectividade possível, as três denúncias que mencionei acima. Certamente que havia outras, mas estas pareceram-me ser matérias susceptíveis de prova definitiva, de um ou de outro modo. E o que pude verificar é que cada uma destas denúncias era totalmente falsa. Não que fossem exageros, ou que fossem 20 ou 50 por cento inexactas. Não tinham absolutamente nenhuma relação com a realidade. E esta afirmação não é um juízo ideológico nem é baseada em rumores: é uma constatação resultante de pura observação pessoal.

Pode pensar-se ter eu sido deliberadamente iludido pelas autoridades portuguesas e ter visto somente aquilo que os portugueses quisessem que eu visse -- como, por exemplo, se observadores ingénuos estivessem na União Soviética à época de Estaline. Cheguei mesmo a pensar nisso enquanto viajava, mas estou convencido de que este não foi o meu caso. Viajei muitos milhares de milhas através dos territórios portugueses; conversei com imenso número de pessoas, brancos e negros, das mais diversas origens e níveis distintos, gente por mim escolhida, nos momentos de minha preferência, em escolas, hospitais, em aldeamentos e na solidão das matas, durante operações militares, em igrejas, em cerimónias africanas de aldeia, em modernos hotéis e em cabanas de barro.


Isto tudo não significa que gostei de tudo o que vi, nem significa que concordo com cada aspecto da actual política portuguesa: não concordo. Também não significa que aprovo tudo o que os portugueses executaram no passado: decididamente não aprovo. Significa que, se a presente situação no sul da África está muito longe daquela que gostaria que fosse, e admitindo que é necessário lidar com uma situação tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse, acredito que as políticas sociais actualmente implementadas pelos portugueses em seus territórios africanos são aquelas com as maiores propabilidades de proporcionar uma vida melhor para os seus habitantes, obtendo melhores resultados do que qualquer outra alternativa prática.

Os portugueses vêm combatendo em Angola desde 1961, na Guiné desde 1963 e em Moçambique desde 1964. Em minha opinião, o tremendo esforço que as autoridades portuguesas têm despendido para melhorar as condições de vida dos africanos é resultado directo da luta travada em cada um dos territórios. No entanto, qualquer que seja a causa deste esforço, o facto inegável é que, provavelmente agora, faz-se mais para melhorar as condições de vida dos africanos nos territórios portugueses do que em qualquer outra parte de África, negra ou branca. Na Guiné, por exemplo, cerca de 75% do tempo de um soldado são gastos em actividades civis -- construção de estradas, casas, centros comunitários; no atendimento médico, no ensino de técnicas agrícolas mais modernas.

Os portugueses têm todo o direito de estarem orgulhosos pelo facto de terem contido militarmente as ameaças da guerrilha numa época onde outros -- por exemplo, os americanos no Vietname -- viram-se em grandes dificuldades. Ainda mais, os portugueses têm agora o direito de se orgulharem -- independentemente do que tenha ocorrido no passado -- por fazerem tanto para aliviar a miséria, difundir a formação escolar, e, em geral, introduzir os benefícios do progresso social.

Mencionei acima que uma das denúncias que me foram feitas pela FRELIMO era a de que os portugueses praticavam um tipo de discriminação racial que diferia apenas marginalmente do Apartheid. Isto é totalmente falso. Não existe e nunca existiu nenhuma discriminação em termos de cor em nenhum território português. Os portugueses são daltónicos por tradição. Nas forças armadas, por exemplo, há oficiais negros a comandarem soldados brancos, há oficiais milicianos negros, os soldados negros e brancos recebem exactamente o mesmo soldo e vivem exactamente nas mesmas condições.

Não se pode enfatizar com maior veemência a diferença entre a situação verificada nos territórios portugueses e aquela existente na África do Sul, ou na Rodésia, ou, de maneira inversa, em alguns países africanos negros.

O multirracialismo -- como política oficial e como vivência prática -- nos territórios portugueses de África tem uma importância fundamental para a presente situação militar e, ainda mais importante, para o desenvolvimento político, tanto destes territórios, como daqueles adjacentes.

Em termos militares, o carácter multirracial das forças armadas faz com que seja extremamente difícil para os guerrilheiros descreverem o conflito como uma luta racial, de guerrilheiros negros contra portugueses brancos.

Em Moçambique metade das tropas regulares é composta por elementos de raça negra. De facto, se incluirmos -- como deve ser -- a milícia e as populações organizadas em auto-defesa (as quais, frequentemente, não contam com nenhum soldado branco na vizinhança), o número total de negros africanos armados que se opõem à FRELIMO em Moçambique, e ao MPLA em Angola, excede consideravelmente o número de brancos em armas. Tal situação seria totalmente impossível de ser mantida pelas autoridades portuguesas se estas não contassem com o apoio autêntico da vasta maioria da população.

Em termos políticos, e num prazo mais longo, espero que a vivência multirracial existente nos territórios portugueses sirva de exemplo de tolerância a todos os países vizinhos, sejam estes comandados por negros ou brancos.

Estou convicto de que somente um multirracialismo autêntico pode dar alguma esperança à África e, de facto, ao resto do mundo.

O multirracialismo e a moderação existentes em Angola e Moçambique -- proporcionando a igualdade de oportunidade de trabalho para brancos e negros -- podem vir a ter um papel vital na redução da polarização racial no sul de África.

Portugal tem em suas mãos a possibilidade de oferecer um grande contributo à toda humanidade -- o contributo de demonstrar como homens e mulheres de raças diferentes podem viver juntos em paz.

Creio ser esta também a visão do General Kaúlza de Arriaga, que já demonstrou ser um militar brilhante e de pleno êxito, um homem de Estado que raciocina em termos globais, e um ser humano dotado de compaixão. Recomendo este livro ao mais largo público.


Iain Sproat

Câmara dos Comuns, 1972"


* tradução para a língua portuguesa p/ Euro-Ultramarino

Motivos de força maior impediram-me de prosseguir com a actualização destas páginas. Aos estimados internautas que tiveram a amabilidade de ler, comentar ou dar a conhecer o conteúdo deste blog (ainda) novato, apresento as minhas sentidas desculpas pela ausência de um mês, sem aviso prévio. Espero começar a compensar a falha já no próximo post.