Os últimos euro-ultramarinos
Blog de vincada raiz ultramarina, não posso deixar de pensar na África traída e nos milhões de inocentes a quem uma canalha de variada extracção decidiu um dia, de moto próprio, roubar o futuro. Enquanto descolonizadores exemplares, traidores encarcerados por inteligência com o inimigo, apologistas da ideologia mais assassina da História e omissos úteis passeiam pelos caminhos do que restou do nosso Portugal, quero aqui recordar mais uma barbaridade, já não em terra que foi orgulhosamente Portuguesa, mas na Rodésia, onde estão a ser massacrados os últimos euro-ultramarinos que teimaram em ficar no torrão onde mourejaram e enterraram pais, avós e bisavós, e cujo crime sem perdão é a sua própria raça. Vêm a este propósito as memórias de Ian Smith, cuja apresentação faz-se a seguir:
"A Grande Traição é o título das memórias publicadas em 1997 por Ian Smith, último primeiro ministro da Rodésia. Autobiográfica, a obra oferece uma interessante panorâmica da história desta importante parte da África Austral e relata minuciosamente como os nossos "amigos" britânicos e estado-unidenses não descansaram enquanto este pedaço de terra não foi finalmente lançado ao seu calvário particular. Paz, tempo, lei e ordem - factores fundamentais para qualquer evolução autêntica e segura - foram sacrificados em favor da hipocrisia, da irresponsabilidade, da expediência.
Cumpre referir que o texto já se dirigia ao prelo quando a editora, uma das grandes na cena internacional, decidiu suspender a sua publicação, exigindo de Smith que eliminasse os adjectivos de "terroristas" e "assassinos" com os quais qualificava o bando marxista do sinistro Robert Mugabe. Smith prontamente recusou este estelionato histórico e foi com o seu manuscrito à procura de outra editora: jamais poderia referir-se a assassinos, bombistas e estupradores de outra forma.
Seria desnecessário afirmar que A Grande Traição interessa particularmente aos portugueses, euro-africanos genuínos e pioneiros, escandalosamente imolados e esbulhados pela traição doméstica a soldo de uma conspiração internacional - tragédia odiosa que há um quarto de século brada aos céus e clama por justiça!
Logo à partida cumpre ressaltar as páginas elogiosas que Ian Smith dedica a Salazar e a Portugal. Rende sincera homenagem à nação euro-ultramarina que, com a nobreza da simplicidade e a força do carácter, cumpria a sua missão histórica de povo, defendendo com determinação os seus legítimos direitos e interesses perante os fortes do mundo. E reafirma a sua profunda admiração por Salazar, estadista excepcional, cuja craveira intelectual e moral deixaram em Smith uma impressão única e indelével.
Como muitos rodesianos de sua geração, Smith interrompe os estudos universitários e, deixando para trás o sossego do torrão natal, alista-se nas forças britânicas e abala para a Inglaterra. Piloto da Real Força Aérea, combate nos céus europeus até ser ferido gravemente num acidente com o seu Hurricane em 1943. Restabelecido, reintegra-se no seu esquadrão e prossegue a luta até ser abatido sobre território italiano em Junho de 1944. Junta-se aos partigiani italianos até escapar para a França, atravessando a pé - e só com as meias! - os gelados Alpes Marítimos. Em 1945, após uma passagem pela Alemanha, Smith regressa à casa para completar os estudos e dedicar-se à agro-pecuária. Em 1948 ingressa na política.
Irrompe a década de sessenta e dos pulmões dos vencedores de Ialta sopra o bafio velhaco dos "ventos da mudança", a mascarar o verdadeiro objectivo de expulsar os europeus dos continentes africano e asiático. A Grã-Bretanha, alegremente empenhada na sua demissão histórica, anuncia a dissolução da Federação das Rodésias e do Niassalândia com vistas a formação de estados "independentes" governados por maioria negra. Smith é o único de seu partido a manifestar oficialmente a sua desconfiança em relação à proposta explicitada por Londres. Para ele, a Inglaterra, no afã de obter a simpatia de afro-asiáticos, estado-unidenses e soviéticos, estaria disposta a liquidar o seu "problema colonial" com o abandono puro e simples da população branca - os mesmos indivíduos que no conflito mundial de 39-45 deixaram a paz dos seus lares para irem arriscar as próprias vidas no socorro à Grã-Bretanha.
Em 1964 Ian Smith é eleito primeiro ministro. Numa visita oficial a Lisboa encontra-se demoradamente com Salazar e este diz-lhe de chofre que os rodesianos seriam traídos pelos inglêses; e acrescenta que Portugal prestaria o auxílio necessário a Salisbúria. Pouco depois, aqueles a quem Fialho de Almeida chamou de "carrascos ruivos do Tamisa", concretizavam o que o estadista português sentenciara. E a lembrança deste encontro profético com o asceta de São Bento ficou para sempre gravada na memória de Smith; que até ao dia de hoje mostra-se convencido de que, se Salazar tivesse vivido dez anos mais, a Rodésia teria sobrevivido.
Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico - que insistia em não cumprir o que havia sido acordado, além de superar-se a si próprio na arte da velhacaria -, Smith declara a independência da Rodésia. Sua vida política passa então a reger-se quase que exclusivamente por duas constantes: a neutralização dos efeitos das sanções impostas pela ONU, sob a batuta de Londres e Washington; e o combate ao terrorismo e à guerrilha de obediência comunista que faziam a sua desumana entrée no território.
De 1965 a 1979 Smith e a sua Frente Rodesiana - sucessivamente reconduzidos ao governo - mourejaram para levar o novo país na trilha do progresso, enquanto negociavam com os líderes negros contrários ao uso da violência, as fórmulas prudentes e justas para, um dia, transferir as estruturas governamentais a uma maioria negra. Em 1979, o bispo Abel Muzorewa torna-se chefe do governo e constitui a primeira administração bi-racial. Entretanto, para os polícias planetários, um governo responsável composto por brancos e negros não tem serventia, uma vez que o que realmente pretendem é abrir caminho aos terroristas, até então afastados do processo do sistema oficial. As pressões internacionais e a campanha de terror intensificam-se: Londres e Washington exigem a inclusão do marxista Mugabe e de seus bandoleiros no famigerado "processo político". Os primeiros sinais de fadiga começam a ser notados: é a velha tentação de sucumbir às pressões externas e reger-se por cartilha estranha em troca da supressão dos sacrifícios necessários. O governo de Muzorewa não logra durar muito e novas eleições são convocadas, desta vez com total liberdade de acção para o bando terrorista de Mugabe e, naturalmente, o beneplácito dos areópagos internacionais. A intimidação mais atrevida, o terror sem peias e a utilização dos expedientes mais cavilosos para baralhar o escrutínio, possibilitam a vitória aritmética dos marxistas. Acto contínuo as sanções internacionais são levantadas e a Inglaterra outorga a imediata independência à Rodésia, que já amanhece como o marxista Zimbabué - atitude que demonstra de maneira indesmentível as intenções verdadeiras e originais dos ingleses. Caía o pano: completava-se a grande traição. Mugabe, apaparicado pelos senhores do globo, não tarda em implantar a sua ditadura de partido único através da perseguição, intimidação e eliminação física de opositores. O alvo preferido é a população branca e os negros que não "aderiram" prontamente à "revolução". Um território outrora pacífico e em franco desenvolvimento é transformado num espaço de opressão e violência, corrupção e ruína económica.
Ian Smith termina o livro recordando às consciências mundiais que estas esqueceram-se de advertir que o tão propalado princípio de "um homem - um voto" seria aplicado em África… apenas uma vez!
A repetição da barbárie a que assistimos nesta terra martirizada é apenas a continuação da actividade terrorista iniciada em meados dos anos sessenta e que culminou, em 1980, com a tomada do poder pela cáfila de assassinos liderados por Mugabe. Não há ilusões nem surpresas. É mais um capítulo do terrorismo de estado então implantado sob a chancela dos que se arrogavam a qualidade de porta-vozes da "comunidade internacional".
A verdade é que os arautos dos "direitos humanos" e da "auto-determinação", enquanto condenam e boicotam um governo livremente eleito pelo povo austríaco, acocoram-se perante as mais violentas e corruptas ditaduras africanas - aquelas que eliminam fisicamente a oposição, "governam" as populações a tiro ou à fome, levam à ruína os mosaicos tribais irresponsavelmente armados em países, enquanto acumulam fortunas nababescas nos offshores financeiros e adquirem sumptuosos palácios na Europa.
Aposto dobrado contra singelo que a nova vaga de racismo anti-branco na antiga Rodésia, com o habitual cortejo de agressões, assassinatos e invasões de terras, não irá tirar o sono aos senhores da Nova Ordem Mundial. Fiquemos descansados: os aviões da dupla justiceira Clinton & Blair não irão largar bombas em cima do Zimbabué do camarada Mugabe. Padecer sob a pata comunista nunca proporcionou o direito a muita indignação ou a uma grande audiência. Ademais, uma boa limpeza étnica, desde que feita por negros contra brancos, é sempre vista com os olhos húmidos de compreensão.
A farsada que constitui a obra-prima das ONUs e dos senhores deste planeta vai, desgraçadamente, continuar em cartaz na terra africana encharcada com o sangue dos inocentes. Eis as excelsas realizações dos arrojados descolonizadores - "exemplares", com certeza.
No momento em que a antiga Rodésia volta a ser notícia, recomenda-se vivamente a leitura das memórias de Ian Smith, disponível em língua inglesa. The Great Betrayal, The memoirs of Africa's most controversial leader, by Ian Smith, Blake Publishing, 1997."
4 Comments:
Excelente e oportuno post.
Oportuno também o esclarecimento sobre Enoch Powell.
Oportuníssima recordação, amigo!
Excelente post.
Fui como indicou á editora mas não há mais edições.
Será possivel haver noutro sitio?
Excelente blog
Carlos Obrigado
Este comentário foi removido pelo autor.
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