terça-feira, janeiro 17, 2006

Tribulações de um pulhítico



Começa o julgamento político de Aníbal Ibarra, o presidente (temporariamente afastado) da autarquia de Buenos Aires. Cento e noventa e quatro jovens mortos no incêndio de uma discoteca popular que não contava se quer com saídas de emergência foram motivo suficiente para levar a cabo uma investigação que descobriu – que surpresa! – que um importante esquema de corrupção facultava aos estabelecimentos deste tipo a possibilidade de comprar a “vista grossa” aos solícitos fiscais, teoricamente responsáveis por inspeccionar as condições de segurança nos referidos lugares. Como as licensas e as fiscalizações estão a cargo da autarquia, obrou-se o milagre, ainda que parcial, de convidar o chefe do governo porteño a assumir as suas responsabilidades.

O currículo de Ibarra, que começou a carreira como implacável promotor do ministério público, é impecável: antigo dirigente da juventude comunista universitária; introdutor do casamento homosexual na legislação autárquica; intransigente defensor do aborto livre; desculpabilizador de delinquentes e culpabilizador das vítimas; promotor de manifestações “artísticas” nas quais Cristo ou Nossa Senhora são ridicularizados; atribuidor da cidadania honorária a Fidel Castro, etc. – o de costume.

A sua defesa alega que o presidente da autarquia não pode ser responsabilizado pelos actos ilegais pontualmente praticados por fiscais de orgãos sob sua tutela, nem que lhe pode ser exigido o pleno conhecimento de tudo o que ocorre na grande estrutura administrativa.

Aos presidentes militares julgados, condenados e presos por conta da luta anti-terrorista dos anos 70 e 80 não se permitiu defesa baseada nos mesmos princípios da proposição acima.

Nada como uma guinada de cento e oitenta graus nas lindas convicções quando o que está em jogo é a própria cabeça.

Como dizia Perón, ao amigo tudo; ao inimigo nem a lei.

3 Comments:

At 12:34 da tarde, Blogger Flávio Santos said...

Bem apanhado.

 
At 3:58 da manhã, Blogger acja said...

Bandido.Na amplitude da palavra.

 
At 4:59 da tarde, Blogger vs said...

Ora vamos lá ver:

Videla andava na 'luta anti-terrorista'?!?

Ai sim?!
A sua linguagem eufemística é fantástica.

Era exactamente isso que Honecker, Ceauseascu, Stalin e Hohxa diziam estar a fazer....'luta anti-terrorista'.....

Em que é que Videla se distingue de Castro? ou, reformulando, em que é que ser torturado e morto por Videla é diferente de ser torturado e morto pelo regime cubano?

Ficamos assim a saber que os fins justificam os meios.
Para coerência não está mal.
É óbvio que, nestas circunstancias, atirar pedras sobre os comunistas é ridículo.

Felizmente que grande maioria das pessoas sabe, quase que por instintto, que há certa Direita que em NADA se distingue dos seus gémeos comunistas e marxistóides.
Tudo farelo do mesmo saco.

Felizmente, a História já não passará por certos 'sítios', pois que entretanto o efeito novidade foi-se e o baile de máscaras terminou.

 

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