Salazar, Mircea Eliade e um desinformador brasileiro
Carta enviada ao diário “O Globo” do Rio de Janeiro (30-01-01) em resposta a artigo sobre o “julgamento” do fascismo de Mircea Eliade e a relação deste com Salazar.
“Senhores,
O artigo intitulado “Israel julga o fascismo de Mircea Eliade”, de autoria do Sr. Ariel Finguerman, e publicado a 27/01/01, convida-me a fazer os seguintes comentários:
A matéria sobre Eliade — romancista e pensador romeno de nomeada, autoridade em filosofia e história das religiões — já traz, no seu título, a confirmação da curiosa atitude dos meios de comunicação de massa.
“Julgamentos” e “prestação de contas” são apenas exigidos quando a personalidade em exame teve qualquer ligação com o fascismo ou o nazismo — ideologias bastante distintas, apesar do esforço de certos quadrantes em amalgamá-las com o propósito de baralhar e confundir o gentio. Neste caso o entrevistador, o jornalista, o editor, rasgam as suas alvas vestes, e, autoproclamando-se defensores da humanidade ofendida, exigem a devida exautoração pública.
No entanto não há “julgamentos” nem “prestações de contas” pelas ligações de intelectuais, artistas ou outros profissionais, com o comunismo — ideologia cuja aplicação prática representou a maior barbaridade já vivida pelo género humano e orçada num mínimo de 100 milhões de mortos.
Imaginemos: Um Oscar Niemeyer “julgado” pelas suas fervorosas ligações ao comunismo soviético? Nunca! Um Jorge Amado intimado a “prestar contas” sobre o seu envolvimento com o partido comunista? Impossível! Um bom puxão de orelhas ao Garcia Marques pela devoção a Castro, este folclórico açougueiro caribenho? Em nenhuma hipótese! Vemos, sim, as meigas gentilezas e os sorrisos dos entrevistadores; lemos, sim, os rasgados elogios e as manifestações de admiração da parte dos articulistas.
Importa acrescentar que Mircea Eliade foi professor das Universidades de Bucareste e Paris (Sorbona), além da de Chicago, referida no artigo. Suas obras principais são, a par de “O Mito do Eterno Retorno”, já citado, o “Tratado de História das Religiões” e “Salazar e a Revolução Portuguesa” — Eliade foi conselheiro cultural da embaixada romena em Lisboa, de 1942 a 1944.
O articulista apoda o regime identificado com o Prof. Salazar como “ditadura”, indicando que Mircea Eliade considerava-o um “Estado cristão e totalitário baseado no amor”. Sendo esta uma frase solta, e a única referência de Eliade a Portugal existente no texto, não se percebe muito bem como é que se pode ser ao mesmo tempo cristão e totalitário, pois o próprio Eliade afirmou que Salazar sempre colocou à frente as verdades em que acreditava: “Deus, primazia do espírito, Portugal, família”.
Finalmente, gostaria de recordar ao Sr. Finguerman — que presumo ser semita — que muitos milhares dos seus foram salvos graças ao refúgio e fraternal acolhimento que a tal “ditadura” lhes proporcionou em Portugal. Um Portugal onde não se discutia Deus e a Virtude, onde não se discutia a Pátria e a sua História, onde não se discutia a Família e a Moral, onde não se discutia a glória do Trabalho e o seu Dever.
Tudo isto é hoje classificado de “ditadura” e “fascismo” — para que o seu exacto contrário possa ser chamado de “liberdade” e “democracia”.
Com os melhores cumprimentos"
“Senhores,
O artigo intitulado “Israel julga o fascismo de Mircea Eliade”, de autoria do Sr. Ariel Finguerman, e publicado a 27/01/01, convida-me a fazer os seguintes comentários:
A matéria sobre Eliade — romancista e pensador romeno de nomeada, autoridade em filosofia e história das religiões — já traz, no seu título, a confirmação da curiosa atitude dos meios de comunicação de massa.
“Julgamentos” e “prestação de contas” são apenas exigidos quando a personalidade em exame teve qualquer ligação com o fascismo ou o nazismo — ideologias bastante distintas, apesar do esforço de certos quadrantes em amalgamá-las com o propósito de baralhar e confundir o gentio. Neste caso o entrevistador, o jornalista, o editor, rasgam as suas alvas vestes, e, autoproclamando-se defensores da humanidade ofendida, exigem a devida exautoração pública.
No entanto não há “julgamentos” nem “prestações de contas” pelas ligações de intelectuais, artistas ou outros profissionais, com o comunismo — ideologia cuja aplicação prática representou a maior barbaridade já vivida pelo género humano e orçada num mínimo de 100 milhões de mortos.
Imaginemos: Um Oscar Niemeyer “julgado” pelas suas fervorosas ligações ao comunismo soviético? Nunca! Um Jorge Amado intimado a “prestar contas” sobre o seu envolvimento com o partido comunista? Impossível! Um bom puxão de orelhas ao Garcia Marques pela devoção a Castro, este folclórico açougueiro caribenho? Em nenhuma hipótese! Vemos, sim, as meigas gentilezas e os sorrisos dos entrevistadores; lemos, sim, os rasgados elogios e as manifestações de admiração da parte dos articulistas.
Importa acrescentar que Mircea Eliade foi professor das Universidades de Bucareste e Paris (Sorbona), além da de Chicago, referida no artigo. Suas obras principais são, a par de “O Mito do Eterno Retorno”, já citado, o “Tratado de História das Religiões” e “Salazar e a Revolução Portuguesa” — Eliade foi conselheiro cultural da embaixada romena em Lisboa, de 1942 a 1944.
O articulista apoda o regime identificado com o Prof. Salazar como “ditadura”, indicando que Mircea Eliade considerava-o um “Estado cristão e totalitário baseado no amor”. Sendo esta uma frase solta, e a única referência de Eliade a Portugal existente no texto, não se percebe muito bem como é que se pode ser ao mesmo tempo cristão e totalitário, pois o próprio Eliade afirmou que Salazar sempre colocou à frente as verdades em que acreditava: “Deus, primazia do espírito, Portugal, família”.
Finalmente, gostaria de recordar ao Sr. Finguerman — que presumo ser semita — que muitos milhares dos seus foram salvos graças ao refúgio e fraternal acolhimento que a tal “ditadura” lhes proporcionou em Portugal. Um Portugal onde não se discutia Deus e a Virtude, onde não se discutia a Pátria e a sua História, onde não se discutia a Família e a Moral, onde não se discutia a glória do Trabalho e o seu Dever.
Tudo isto é hoje classificado de “ditadura” e “fascismo” — para que o seu exacto contrário possa ser chamado de “liberdade” e “democracia”.
Com os melhores cumprimentos"
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home