sábado, setembro 30, 2006

Montevidéu

Atravesso o rio da Prata e passo uns dias na agradável Montevidéu, capital deste simpático produto diplomático do XIX que é o Uruguai, onde ainda se pode sentir muita lusitanidade. Depois de ter sido a Helvécia da América do Sul, as sucessivas crises políticas e económicas, algumas gentilmente oferecidas pelos vizinhos, atiram a antiga Banda Oriental para famigerado terceiro mundo. Contudo, a vida por aqui ainda é bastante agradável, sem o trânsito infernal, as multidões compactas, a poluição, a selva de betão, a lufa-lufa doentia, a mentalidade fastfood, etc. Ainda há uma certa douceur de vie e um ambiente que nos transporta à Costa do Estoril dos fins dos sessenta e início dos setenta. Tradicionalmente integrado na órbita Argentina e com fortíssimos laços com Espanha, Itália e França, o país vem sendo literalmente engolido pelo Brasil. De automóveis e frigoríficos a roupas e bolachas, os brasucas vendem de tudo e à metade do preço cobrado no país de origem. E não ficam-se por aí: compram campos, imóveis, negócios, e a última novidade é a chegada da inevitável Petrobrás e suas estações de serviço verde e amarelo. Juntemos a isso as telenovelas e a música, a verdade é que isso aqui em poucos anos fará parte do Rio Grande do Sul... Aparentemente aborrecido com as brutais assimetrias no comércio com o Brasil e com outras tantas chatices do lado argentino, o Uruguai ameaçou aderir à Área de Livre Comércio das Américas, patrocinado pelos EUA. Fiquei contentíssimo com a hipótese que, se concretizada, seria uma autêntica bofetada nas carantonhas dos camaradas Silva, Kirchner, Chávez e Castro - e uma possibilidade real de progresso para os uruguaios. Qual nada... ontem anunciou-se com grande alarde mediático e festejos pela noite dentro que o país recusara a proposta estado-unidense. Dizem que a sorte não costuma bater à porta duas vezes.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Festival Belmondo en BsAs



Donoso Cortés

A “demo-liberalice” – entendida como partidocratite eleiçoeira – que assola estas paragens dá a medida exacta dos (des)governos imediatistas. Já alguém referiu que se um estadista é aquele pensa nas próximas gerações o político profissional é quem pensa apenas na próxima eleição... Que mal irreparável podem fazer às Nações certos titulares de poder que arrogam-se o direito de dispor do património efectivamente “nacional”, como se a geração que dizem representar fosse proprietária não só do presente como também do passado e do futuro. Vem-me ao espírito Juan Donoso Cortés com a sua ideia de unidade do tempo, de solidariedade como responsabilidade comum num agregado social: se não existe um “vínculo de união” entre o passado, o presente e o futuro, o homem não vive se não no momento actual – e a sua existência é mais “teórica que prática”. Ou seja: o homem que não vive em todos os tempos não vive em tempo algum. A unidade do Portugal pluricontinental estava profundamente enraizada no passado enquanto apontava decididamente para o futuro. Esfacelou-se revolucionariamente esta unidade, deitando-se fora raízes, destino e uma missão histórica – os autores desta inenarrável tragédia humana, moral, material e nacional fugiram “exemplarmente” às responsabilidades. Qual o destino ou a missão na História que ainda resta – se é que resta – ao Portugal abrilisticamente tornado exíguo?

sábado, setembro 23, 2006

Para o Combustões


Responsável pela greve de fome do Combustões, fui de abalada assar três corderos patagónicos e uns substanciais bifes de chorizo con papas rusticas y salsa criolla. Tudo devidamente regado com um bom Malbec e, para a sobremesa, dulce de leche à vontade. Espero que o Amigo possa saciar-se com gosto.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Luto vermelho




Morreu hoje em Buenos Aires Enrique Gorriarán Merlo, leader do Ejército Revolucionário del Pueblo e protagonista de muitos dos banhos de sangue que enlutaram a Argentina. Fundado na década dos sessenta na linha trotskysta, apadrinhado por Cuba e entusiasta do Vietcong, o simpático grupo oferecia toda uma gama de serviços: de assassínios e sequestros urbanos à guerrilha rural segundo a estratégia foquista do compañero Che - e tudo com a violência máxima: simplesmente uma "fria máquina de matar". Mas não pensem que esta rapaziada idealista praticava malvadezas como último recurso para derrubar alguma "ditadura militar". Em 1974, em plena vigência de um governo eleito, constitucional, democrático (e demais atributos demo-liberais de praxe), o ERP lança-se à guerrilha nas matas de Tucumán. Em 1989 - seis anos após o retorno aos "civis", e durante o governo do socialistóide Alfonsin - Gorriarán Merlo e seus muchachos atacaram o quartel de La Tablada", deixando um saldo de 39 mortos. O currículo deste senhor conta igualmente com uns anitos em Cuba, no Chile do camarada Allende, na Nicarágua, a "combater" nas hostes sandinistas, e no Paraguay, onde participou da operação-comando que assassinou Somoza, ali exilado. Convém recordar que Gorriarán Merlo, indultado em 2003, passeava-se e pontificava sem que ninguém lhe estorvasse o caminho. Os militares que combateram o terrorismo e a guerrilha, ou estão a malhar com os ossos na cadeia, ou tiveram os seus indultos anulados por Kirchner. Há poucos meses assisti a uma entrevista do falecido, a dissertar muito sobre paradigmas, condições objectivas, lutas populares, imperialismos, etc. - tudo com ares de quem fazia um favor à humanidade. Esta criatura que não pestanejou em assassinar crianças de três anos com tiros na cabeça, conquistou o doce coração do estalinista prémio Nobel Saramago, que interveio em pessoa para que Gorriarán Merlo fosse contemplado com um indulto. E ainda há quem acredite na justiça dos homens, nas instituições, no capuchinho vermelho, etc.

Questão de gosto

Quanto mais se afunda na escandaleira da corrupção mais sacrossanto desponta o Sr. Silva e, em consequência, mais garantida ainda torna-se a sua reeleição. A verdade nua e crua - a vencer a grandíloqua escritura - é que o brasileiro embandeira em arco ao ser enganado, e, sobretudo, quando é expoliado. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, a fiscalidade já atinge 54.82% do PIB. À mais alta tributação planetária somemos a mais alta taxa de juro, a obrigação de sustentar uma indústria com mercado cativo, a insegurança já transformada em guerra civil, o sistema pulhítico inteiramente putrefacto, etc. Chacun son truc...

Aí vamos outra vez


Graças à ajuda dos Amigos o "Modelo T" do saltimbanco euro-ultramarino ganha novíssimas baterias e retoma a estrada.

quarta-feira, setembro 20, 2006

FIM
Agradeço a atenção de todos, especialmente o apoio dos Amigos.
Continuarei, é claro, leitor fidelíssimo de Vossas Excelências.

sábado, setembro 16, 2006

Fartar vilanagem

Realmente comovedora a visita de Koffi Anann a Castro. Não é que o secretário das famigeradas nações unidas e desunidas arranjou tempo livre na sua ocupadíssima agenda e foi de abalada à La Habana, render homenagens e agradecer - em nome da humanidade, é claro - as "enormes contribuições" e o "papel de liderança" do papá Fidel? As 120 mil víctimas do tsunami de 31-12-2004 não foram capazes de fazer o "morenaço" esquiador abandonar as suas vacances d'hiver em Courchevel. As "enormes contribuições" saldam-se por duas façanhas: fuzilar mais de 100 mil indivíduos e transformar um país que ostentava o terceiro mais alto nível de vida na América (após EUA e Argentina) em um bairro de lata esquálido. Nem falemos de "contribuição" semelhante na nossa Angola... Podem ambos limpar as patitas à parede.

terça-feira, setembro 12, 2006

Paris Sera Toujours Paris - Maurice Chevalier

Quando Paris e a França ainda eram francesas (malgré l'occupation allemande...)

sexta-feira, setembro 08, 2006

Nostalgia setentista 2

Nostalgia sessentista 2

Nostalgia setentista

Nostalgia sessentista

Livro de cabeceira

E por falar em grandes catedráticos de Coimbra, recordo aqui um Gigante.

"Beaucoup d'hommes pensent que leurs bonnes intentions exercent une influence décisive sur les événements, ce qui n'est aucunement exact. Ce qui détermine la marche des événements, ce ne sont pas les intentions. Même les actes, considérés isolément, n'influent pas sur eux d'une manière décisive. Ce sont, avant tout, les positions d'où l'emsemble de l'action procède et où elle trouve ses inspirations."
Oliveira Salazar

Jordán B. Genta - Nacionalismo Católico na Argentina

Catedrático de nomeada e grande teórico do nacionalismo católico argentino, Jordán Bruno Genta foi assassinado pelo terrorismo montonero a 27 de outubro de 1974. Enquanto a linda juventude "idealista" seguia os conselhos do Che e matava a torto e a direito para instaurar um paraíso terrestre versão cubana, Genta, combatente das ideias, buscava a superação da "confusão ideológica" e das "tendências desagregadoras", tanto do capitalismo liberal como do comunismo ateu, ambos essencialmente anti-cristãos e apátridas. O "nacionalismo hierárquico" de Jordán Bruno Genta, baseado na verdade e no sacrifício, buscava a restauração do princípio da autoridade, a ordem hierárquica e a liberdade possível, em todos os corpos sociais e no Estado Nacional, promovendo a justiça e a caridade cristã.

Aqui Genta elabora um autêntico manual para o combate contra-revolucionário global - uma dupla disciplina formativa: a doutrina positiva (princípios, valores e instituições fundamentais que devem ser afirmados, servidos e defendidos em todos os campos, teóricos e práticos) a enfrentar a doutrina negativa (desencadeada pela guerra revolucionária total - o comunismo -, assim como seus antecedentes e aliados ideológicos; a sua estratégia, táctica e armas dialécticas). Tem plena consciência de que esta guerra é total: religiosa, mental, moral, política, física; e combatida todos os dias e em todos os ambientes. Doutrinador do nacionalismo hierárquico, em cuja base estão os valores da Cristandade, do Ocidente Católico e Romano, o autor, reconhecendo que tudo depende da vontade de Deus, recorda que os homens têm a obrigação de empenhar-se como se tudo dependera exclusivamente deles. "É o que Deus quer e espera dos Seus."

Aspersões contra-revolucionárias

Contra democratites, partidocratites, socialistites e chatices correlatas, nada como algumas doses de boa e velha formação corporativa:

"Alguns pensadores, subordinando o individual ao colectivo, validam apenas a sociedade: - A realidade humana aparece dominada pelo meio social. O pensamento humano é absorvido pelo pensamento colectivo. O indivíduo nada conta perante a majestade do Estado, que vê na sociedade o valor absoluto, a realidade soberana. É esta a doutrina socialista ou colectivista.

Segundo outros, ao contrário das teorias anteriores, o homem é a primeira realidade a considerar. Pode mesmo confinar-se a si próprio, defendendo a máxima: - vive só pra viveres feliz. O homem olha apenas aos seus direitos, desinteressando-se da sociedade. É a doutrina individualista.

As duas posições são exageradas. É indubitável a influência do ambiente social por meio de vários factores - actividade profissional, educação, etc. - mas, essa influência concorre apenas para a integração da vida humana na sociedade. Por outro lado, embora a acção humana se valide em função da sociedade, não é legítimo esquecer o homem e atender apenas ao agrupamento. Igualmente não é legítimo considerar unicamente os direitos humanos. Interessa, sim, defender a dignidade da pessoa humana, invocando os seus direitos e os seus deveres, mas defendendo ao mesmo tempo o bem comum.

O homem, embora naturalmente orientado para a vida em sociedade e sujeito a pressões sociais, não abdica de si mesmo, vale também por si próprio. A sociedade não o deve anular, pois haverá de continuar no uso pleno das suas faculdades com a consciência dos direitos que lhe assistem e dos deveres que contraiu.

Esses direitos e deveres situam-se não só relativamente à sociedade no sentido mais lato, como se referem aos agrupamentos que, com o andar dos tempos, se foram diferenciando."

"Quer o individualismo, quer o socialismo são doutrinas extremistas. Entre estas duas posições, politicamente, situam-se as doutrinas intervencionistas. O homem, embora realidade social a considerar, é integrado em diferentes grupos sociais.

O Estado não é, como no sistema liberalista, um simples observador da actividade humana; não absorve completamente o indivíduo, como quer a doutrina socialista. O Estado intervém para orientar e regularizar a iniciativa individual no sentido da maior utilidade. Os meios de produção, segundo preconizam os sistemas intervencionistas, não ficam sujeitos à livre concorrência individual, nem são monopólio do Estado; ficam entregues a empresas, singulares ou colectivas, subordinadas à intervenção e fiscalização do Estado.

As ideias socialistas e individualistas, utópicas e falsas, conduzem, pelos seus inconvenientes, a situações insustentáveis. No primeiro caso, entrega-se o mais fraco ao arbítrio do mais forte; na segunda solução, degrada-se a consciência profissional e escraviza-se o indivíduo em favor de um Estado patrão.

Nas doutrinas corporativas, de tipo intervencionista, a propriedade, o capital e o trabalho desempenham uma função social em regime de cooperação económica e solidariedade. O Estado Corporativo é, pois, um regime de paz social e de justo equilíbrio entre os elementos estruturais da Nação."

sexta-feira, setembro 01, 2006

Expropriação nada bolivariana

O Country Club de Caracas e o Valle Arriba são dois belos oásis, além de emblemáticos clubs da capital venezuelana. No quadro da revolução "bolivariana" do Comandante Chávez a edilidade caraquenha houve por bem decretar a expropriação de boa parte dos terrenos de ambos, nos quais serão construídas "50 mil" (?) habitações populares. Segundo o próprio edil, agora é que a "putrefacta classe" oligárquico-burguesa vai saber o que a casa gasta... Nesta América do Sul "neo-socialista" os métodos de gestão variam: enquanto no Brasil o governo promove as invasões de terras e propriedades desde os bastidores, pelo menos na Venezuela a agressão é realizada de frente e por vía oficial. Bolivar - espanhol de pura cepa, aristocrata e dandy - deve estar a remexer-se freneticamente na tumba. Se Chávez e compañeros tivessem vivido sob o mando do antigo playboy parisiense, teriam certamente frequentado o pelourinho para generosas sessões de vergastadas correctivas.