segunda-feira, janeiro 30, 2006

"Drowning by numbers"


Estava eu a escrevinhar um "post" sobre os números (reais) das eleições presidenciais quando deparo com o trabalho extremamente bem-feito do Bic Laranja.

Como subjacente à democratite está a absoluta submissão à ditadura imposta pela aritmética, o sistema partidocrático deveria fazer a devida leitura dos números, levando em minuciosa conta os "votos" expressos pela abstenção.

A verdade é que quem recebeu mais votos na eleição presidencial foi justamente a abstenção. 37.39% dos eleitores inscritos julgaram que não havia interesse em participar da "festa da democracia", como rotulam os brasucas o acto eleiçoeiro. Se consideramos a abstenção, Cavaco Silva chega em segundo lugar, com 31.09%; o Alegre companheiro de terroristas assassinos de portugueses vem em terceiro, com 12.74%; o insuperável e inevitável descolonizador exemplar aparece em terceiro, com 8.81%; etc. Mas os escravos da aritmética virão dizer que ao gentio lhe foi dada a liberdade -- perdão! esta foi uma gloriosa conquista -- de exercer o lindo direito de voto e que, no pacote, estava incluída a possibilidade de o não fazer. Não quererão nunca ver que, se calhar, o povo já começa a fartar-se deste sistema partidocrático e do seu ramerrão ultrapassado. Mas não. Preferem ignorar democrática, olímpica e aritméticamente a existência destes 37.39% de maus cidadãos, paupérrimos em espírito republicano.

Outro aspecto curioso é que, grosso modo, metade dos votos enfiados nas urnas estava endereçada a indivíduos assumidamente de esquerda, extrema-esquerda, adeptos de Marx, de Trotsky, e de outros cromos da vasta colecção destas bandas. A outra metade foi para um candidato que, pelo que saiba, nunca declarou-se de direita -- nem ele nem os seus sócios. Portanto, a pergunta a fazer é esta: existe direita em Portugal?

sexta-feira, janeiro 27, 2006

O Estupro da Europa

"O Estupro de Europa"
Gianbattista Tiepolo, 1725

Em tempos que já lá vão, ao apreciar esta pintura do mestre veneziano, desconfiei do carácter profético da imagem. Era época em que a Europa -- com raríssimas excepções -- escolhia a senda da demissão. Ainda europeia, a velha matriz de civilização abria as comportas à destruição de sua identidade -- transformação, hoje, brutalmente confirmada. Definitivamente somos testemunhas do estupro da Europa: do seu passado, dos seus valores, das suas obras, de tudo o que representa.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Tribulações de um pulhítico



Começa o julgamento político de Aníbal Ibarra, o presidente (temporariamente afastado) da autarquia de Buenos Aires. Cento e noventa e quatro jovens mortos no incêndio de uma discoteca popular que não contava se quer com saídas de emergência foram motivo suficiente para levar a cabo uma investigação que descobriu – que surpresa! – que um importante esquema de corrupção facultava aos estabelecimentos deste tipo a possibilidade de comprar a “vista grossa” aos solícitos fiscais, teoricamente responsáveis por inspeccionar as condições de segurança nos referidos lugares. Como as licensas e as fiscalizações estão a cargo da autarquia, obrou-se o milagre, ainda que parcial, de convidar o chefe do governo porteño a assumir as suas responsabilidades.

O currículo de Ibarra, que começou a carreira como implacável promotor do ministério público, é impecável: antigo dirigente da juventude comunista universitária; introdutor do casamento homosexual na legislação autárquica; intransigente defensor do aborto livre; desculpabilizador de delinquentes e culpabilizador das vítimas; promotor de manifestações “artísticas” nas quais Cristo ou Nossa Senhora são ridicularizados; atribuidor da cidadania honorária a Fidel Castro, etc. – o de costume.

A sua defesa alega que o presidente da autarquia não pode ser responsabilizado pelos actos ilegais pontualmente praticados por fiscais de orgãos sob sua tutela, nem que lhe pode ser exigido o pleno conhecimento de tudo o que ocorre na grande estrutura administrativa.

Aos presidentes militares julgados, condenados e presos por conta da luta anti-terrorista dos anos 70 e 80 não se permitiu defesa baseada nos mesmos princípios da proposição acima.

Nada como uma guinada de cento e oitenta graus nas lindas convicções quando o que está em jogo é a própria cabeça.

Como dizia Perón, ao amigo tudo; ao inimigo nem a lei.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Conquistas abrileiras

A contribuição portuguesa para provar que neste mundo dos homens o crime compensa. À grande e à francesa.


Aqui alguns dos pontos altos do magnífico currículo do descolonizador exemplar, abraça-terroristas e aldrabão de lábia larga.






quinta-feira, janeiro 12, 2006

O Rei


São Luís, Rei de França, modelo de Rei autêntico: pai, provedor, governante, protector.

Será que algum presidente (ou aspirante a sê-lo) destas res-públicas (de bananas ou de qualquer outro fruto) muito liberais e muito democráticas que grassam pelo orbe seria capaz de:

Expor-se à frente de um exército e combater em defesa de seu país?
Receber em audiência privada qualquer cidadão humilde?
Cuidar pessoalmente de necessitados, mendigos e doentes, especialmente leprosos?
Dormir em chão duro, jejuar e praticar o sacramento da penitência?
Não exigir ou impor nada ao seu povo antes de dar o seu exemplo pessoal?

Homessa! Claro que não, dirão estes privilegiados, grandes mercadores de votos e favores, para quem coisas do tipo acima são absurdos da Idade Média -- sorrirão com ares sofisticados enquanto acrescentam: Idade das Trevas! Eles, sim, é que estão na modernidade... Que cada um arranje-se como puder!

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Apogeu e Decadência


A Argentina é um país curiosíssimo. Em apenas trinta anos, de 1880 a 1910, logrou-se transformar a pampa húmida dos gauchos em um dos países mais ricos, mais cultos e com um dos mais elevados níveis de vida em todo o mundo. Quem tem a oportunidade de visitar Buenos Aires agora, já profundamente alterada por décadas de crisis de todos os tipos e magnitudes, ainda vai maravilhar-se com a beleza, a elegância e a grandiosidade do que restou dos palácios, prédios públicos e privados, parques, jardins, tudo à imagem e semelhança de Paris. Por momentos o visitante sentir-se-á na velha Europa de outros tempos: livrarias em cada esquina, cafés decorados com boiseries e alabastro, confeitarias de ambiente parisiense ou deliciosamente Mitteleuropa; grande oferta de concertos, ópera e ballet; gente vestida a preceito, muitas vezes em flanela cinza ou tweeds.

Nos últimos anos do século XIX o producto per capita igualava os níveis obtidos na Alemanha, na Bélgica e na Holanda, superando a França, a Itália e a Espanha. Em 1914 o ordenado médio de um trabalhador industrial na capital argentina era 20% superior ao do seu homólogo de Paris. Por esta altura um em cada três habitantes de Buenos Aires era imigrante – a vasta maioria italianos e espanhóis. Após a II Grande Guerra e graças à fortuna acumulada pelas vendas de carne e trigo aos beligerantes, o governo de Perón mete ombros à industrialização: em 1947, sob a orientação de engenheiros alemães, constrói-se o primeiro avião a jacto, um caça militar; desenvolve-se uma indústria petrolífera de grande porte; surgem fábricas de automóveis que, ao longo dos anos, atingem o número de dez; fabrica-se o primeiro computador da Iberoamérica; domina-se a tecnologia nuclear; produzem-se navios, locomotivas e maquinária sofisticada.

A Argentina de hoje está em pantanas. A indústria, em sua maior parte, esfumou-se – ou foi substituída pela brasileira, a única no mundo a contar com mercado cativo. A Argentina dos europeus que para cá se dirigiam a fazer a América apresenta neste momento 50% de pobres, grande parte indigentes. Para tornar-se rica e desenvolvida a Argentina olhava para a Europa e para a América do Norte – alí dirigia-se a buscar inspiração, exemplo, companhia e negócios. Hoje, pobre, a ostentar o título de única sociedade que transitou do desenvolvimento ao subdesenvolvimento, o país estupidamente contenta-se em buscar o seu role model no Brasil do analfabeto sr. Silva, o qual está literalmente a devorar o que restou da economia argentina.

Tendo sido objecto de investigações académicas pela rapidez e qualidade de seu processo de desenvolvimento, o país dos Argentinos voltou a sê-lo, desta vez pela rapidez e qualidade do seu processo de subdesevolvimento.

Ésta é a dupla excepcionalidade argentina.

Um excelente ensaio sobre o apogeu e a decadência do país do tango é justamente La Excepcionalidad Argentina, Auge y Ocaso de una Nación, por Vicente Massot, Ed. Emecé, Buenos Aires, 2004.

Se cambiarmos “Ultramar” por “Europa/América do Norte/Indústria” e “Espanha/União Europeia” por “Brasil” encontramos uma interessante semelhança entre os itinerários da decadência de Portugal e da Argentina. Nacional-masoquismo? Inclinação para o suicídio colectivo? Bom... isto já é tema para uma próxima conversa.

sexta-feira, janeiro 06, 2006


As duas tradições da infância: o Bolo-Rei e a Galette des Rois
No Dia de Reis uma saudação amiga a todos.

Ao estimado ACR do Aliança Nacional os votos de um rápido e pleno restabelecimento. Cá o esperamos para continuar a paixão e o combate pelo Portugal de sempre.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

A Resposta Portuguesa - Capítulo II

"A Resposta Portuguesa

Conforme procurei demonstrar no capítulo anterior, devido ao neo-racismo, ao banditismo organizado e ao comunismo neo-imperialista, dificilmente existe hoje no mundo algum lugar onde não haja subversão latente, terrorismo ou guerrilha; seja nas florestas ou na mata virgem, em comunidades urbanas sofisticadas, ou nos meios de transporte -- que deveriam ter a função de aproximar a humanidade. Paradoxalmente, existem homens e organizações que se consideram a si próprios como líderes nacionais ou internacionais, que condenam o princípio do apartheid ao nível local, mas que trabalham para a criação de um apartheid ao nível mundial.

Quer dizer, estes homens estão a impor ao mundo o conceito da Europa para os europeus brancos, da África para os africanos negros e da Ásia para os asiáticos amarelos. Tal conceito indubitavelmente levará o mundo a uma catastrófica confrontação étnica.

Em outras palavras, no momento em que o mundo está infestado por subversão, terrorismo e guerrilha, o remédio proposto é o apartheid ao nível mundial.

É precisamente neste ponto que Portugal -- que tenho caracterizado como um estado euro-africano, como uma nação que não está em África mas também é África -- oferece ao mundo a sua própria solução, uma solução resultante da sua História, e que está agora a ser aperfeiçoada.

Esta solução baseia-se na harmonia entre homens de todas as raças, credos e culturas; uma solução multirracial, de completa liberdade religiosa e fusão de culturas. É uma solução de justiça, de igualdade de oportunidades, de ordem e progresso para todos.

É a solução praticada em todos os territórios portugueses -- no que eu chamaria de Espaço Português -- em todos os aspectos da vida. Acredito que seja esta a solução, não só para Portugal, mas para todo o mundo. De facto, se a solução portuguesa não é a certa, então pode ser que não exista solução alguma!

Creio, portanto, que a solução multirracial portuguesa, em vez de ser absurdamente combatida, deveria ser considerada como uma solução-piloto -- bem recebida, aprimorada e adaptada a cada caso particular.

A verdade é que os portugueses não são, ao contrário do que tem sido propalado por ignorância ou má-fé, retrógrados em relação aos ventos da História. Ao contrário: os portugueses estão bem à frente destes ventos.

A tragédia é que uma grande parte do mundo parece não ter ainda atingido o estágio de conhecimento ou maturidade necessário para compreender e aceitar aquilo que os portugueses já tentaram e testaram, e que agora lhe estão a oferecer -- certamente a única resposta para o mundo de amanhã.

Um problema incómodo que nós portugueses ainda temos de ultrapassar é o da descontinuidade territorial.

Contudo, o progresso técnico nos transportes praticamente já solucionou esta descontinuidade. Hoje, por exemplo, é mais demorado e menos confortável viajar de Lisboa à Bragança, uma distância de 143 kilómetros dentro do Portugal metropolitano, do que viajar os 2.237 kilómetros entre Lisboa e Luanda, em Angola. E o constante progresso da aviação, não apenas em termos de velocidade, mas também em termos de capacidade de carga e redução de custos, tornará cada vez mais desprezíveis as distâncias que separam os vários territórios portugueses.

Acredito, portanto, que a solução portuguesa oferece uma resposta ao problema social sob uma óptica nacional, e que o progresso nas comunicações eliminará o problema da descontinuidade territorial.

Restam ainda a Portugal dois outros factores condicionantes de política, nomeadamente os factores estratégico e económico.

Relativamente ao primeiro, a posse por Portugal de vastos territórios e extensas linhas costeiras no Atlântico Norte, Atlântico Sul e Oceano Índico, é claramente um factor de significativa importância estratégica.

Em relação ao segundo, a desintegração daquilo a que chamei Espaço Português, numa multitude de espaços mais pequenos, seria absurda e anacrónica, especialmente numa época na qual muitos outros, a começar pela Europa, tentam encontrar fórmulas viáveis de união económica.

A solução portuguesa, portanto, é baseada na sua resposta social, na resolução progressiva da descontinuidade territorial, nos seus interesses estratégicos e na sua unidade económica. Estes são os factores que estão na base do conceito de nação una que existe hoje em Portugal e que deve continuar a existir."

Mais Vermeer


Para acompanhar o Misantropo Enjaulado -- indiscutível especialista do bom gosto -- aqui está A Leiteira, do inigualável Johannes Vermeer, predilecção cá da casa.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Memória hemiplégica



Nestor – “el Pinguino” – Kirchner é presidente argentino e, dizem alguns especialistas, padece de agudíssima montonerite. A terrível moléstia pode atacar indivíduos que nos anos setenta fizeram parte da organização terrorista de esquerda Montoneros, mas que desempenharam funções, digamos, burocráticas. Diante de tantos tiros, bombas, sequestros e matanças várias, tudo devidamente glamourizado pelos manipuladores planetários de costume, o “montonero de secretária”, como diz-se cá no burgo, sente-se frustradíssimo por não ter tido a (1) oportunidade ou (2) a capacidade ou (3) a coragem de arriscar o couro, e passa a sentir uma compulsão obsessiva de compensar hoje com fanfarronadas escandalosas e bravatas peçonhentas as lacunitas curriculares de antanho. Além desta patética reacção psicológica compensatória a montonerite também traz a reboque a hemiplegia das funções de memória: o infectado esquece por completo que os jovens idealistas dos anos 60 e 70, docemente transformados em máquinas de matar (a “selectiva e fria máquina de matar” expressamente receitada pelo terno "Che" Guevara), saíram a encharcar de sangue as ruas da Argentina muitos anos antes de que sobre eles se abatesse uma mão de ferro repressora. Para Kirchner e a sua troupe de esquerda melindrada a rapaziada terrorista e guerrilheira andava em casa a tomar chá e a comer docinhos (i.e., mate e alfajores de dulce de leche) com as respectivas avós quando, num repente, e por menos do que um dá cá aquela palha, os malvadérrimos militares decidiram persegui-los e supliciá-los tal qual Carvalho e Melo com os Távoras em chão salgado. O tema é largo e escaldante e a ele voltaremos com mais detalhes. Trata-se de um dos maiores embustes de todos os tempos, a sombra do qual, e à imagem de outras charlatanices que andam para aí, muitíssima gente obtêm dinheiro à fartazana, cargos importantes, tribunas permanentes, estrelato, privilégios de toda espécie, etc. Para aqueles que desejam informar-se sobre a história completa, não a versão hemiplégica, desta triste etapa da vida Argentina, a não perder é o livro do jovem advogado Nicolás Márquez, La otra parte de la Verdad, edição do autor, Buenos Aires, 2004, ISBN 9874382678. A despeito da contínua falsificação do passado – especialidade na qual os abrilinos ´74 possuem pós-doutoramento cum laude – contra factos não há argumentos e a verdade virá sempre ao de cima, na Argentina e em Portugal, nem que seja na véspera do juízo final.